O que se passa no Aeroporto de Lisboa?

O Aeroporto Humberto Delgado, também conhecido como Aeroporto Internacional de Lisboa, há muito que se sabe que é insuficiente para lidar com a enchente de turistas que uma cidade da dimensão que serve atrai.

Uma pesquisa rápida demonstra-nos que a gigantesca maioria das capitais europeias é servida por mais do que um aeroporto; Lisboa é das desonrosas exceções. A situação tanto mais se agrava quando tivermos em conta que o turismo é uma das vertentes em que Portugal mais fortemente tem apostado para fortalecer a sua economia — e que Lisboa, quer por decisões políticas relacionadas com outros aeroportos, quer pelo seu magnetismo, é a principal porta de entrada para o país.

Não serve este texto para discutir a legitimidade da aposta no turismo, nem sequer a pertinência do tão badalado novo aeroporto no Montijo ou em Alcochete, menos ainda para analisar as consequências ecológicas dessas decisões. Serve, sim, para reportar o que atualmente acontece no Aeroporto de Lisboa e que invariavelmente tem pontos de ligação às problemáticas acima mencionadas.

Nos últimos dias têm surgido notícias constantes de filas de espera que se alongam a mais de três horas na zona de chegadas do aeroporto da capital. As razões para esta situação são essencialmente duas:

Este cocktail é o que tem causado as cenas de caos no aeroporto, conforme atesta a inspetora Ana Vieira, do SEF, que à Lusa disse que as longas filas de espera no aeroporto de Lisboa refletem o aumento exponencial do turismo e uma infraestrutura desadequada para o número de passageiros.

“Muito honestamente, não estávamos preparados para este aumento exponencial de turismo e de passageiros, e a própria infraestrutura, como o senhor ministro da Administração Interna já disse, também não está adequada a esta realidade”, disse.

O problema é que o pior ainda pode estar para vir — apesar de já termos entrado em época alta, o pico vai verificar-se em julho e agosto. Questionada sobre se o panorama vai agravar-se no verão, com o previsível aumento de passageiros, a inspetora mostrou-se esperançada que o plano de contingência possa melhorar a situação, mas sem dar garantias.

“Se vai manter-se ou se vai intensificar-se no verão… o aumento exponencial de efetivos para a realidade que temos atualmente poderá evitar que em situação de necessidade de efetuar um embarque, tenhamos pessoal disponível sem ter de ir retirar à zona de fronteira”, exemplificou.

A questão, porém, não se cinge a Lisboa, apesar das suas particularidades. “A maior dificuldade para este verão é de facto a falta de recursos humanos e gostava de sublinhar que é uma situação absolutamente comum a toda a Europa”, referiu, nesta terça-feira, a presidente da Autoridade Nacional da Aviação Civil (ANAC). Tânia Cardoso Simões destacou que os atrasos começam no centro da Europa e que vão “em bola de neve” até aos países periféricos.

Tânia Cardoso Simões destacou ainda que a ANAC está a falar com o Governo e outras entidades públicas para encontrar solução, sublinhando que é essencial tomar a decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa. “Nos próximos cinco anos temos de viver com a capacidade que temos, com soluções pontuais para se conseguir evitar atrasos”, realçou.

É pelo novo aeroporto tardar em servir a capital que o Ministro das Infraestruturas admitiu que o atual comece a recusar voos no próximo ano. “Este ano, recusar voos ainda não. No próximo ano muito provavelmente atingiremos, esperamos nós, o melhor ano de sempre, que foi antes da pandemia, e aí começaremos novamente a ter problemas de recusa de voos”, disse Pedro Nuno Santos.

Pedro Nuno Santos, que indicou que “nos próximos dias” o Governo dará “mais informação sobre o aeroporto”, admitiu que as perturbações esperadas para o próximo ano serão agravados, uma vez que já se sentem desde maio “de circulação, de fluidez e tempos de espera.

“Temos um problema que é estrutural, com um aeroporto que está esgotado e que precisa de uma resposta”, defendeu mais uma vez, considerando ser necessário que o país seja capaz de conseguir um consenso alargado para a sua concretização, de forma a assegurar que cada vez que muda um governo ou um ministro “não andamos para trás”.

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