Na sessão inaugural do ano, ocorrida em janeiro, a convidada foi Patrícia Reis e o livro em discussão tratou-se de “A Insustentável Leveza do Ser” (Dom Quixote), famoso magnum opus de forte pendor filosófico do checo Milan Kundera, que coloca as suas personagens nas convulsões da Primavera de Praga de 1968.
A escritora e jornalista — que lançou este ano o seu novo romance “Da Meia-Noite às Seis”, pela Dom Quixote — deixou uma lista de recomendações longa o suficiente para se entreter ao longo de 2022, desde duros romances sobre batalhas parentais até à vida de uma das mais celebradas autoras brasileiras.
- “Apneia” (Casa das Letras) — Tânia Ganho
- “O Infinito num Junco” (Bertrand Editora) — Irene Vallejo
- “Vem à Quinta-Feira” (Assírio e Alvim) — Filipa Leal
- “As Luzes de Leonor” (Dom Quixote) — Maria Teresa Horta
- “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios” (Diversos) — Marçal Aquino (Sem edição portuguesa)
- “Porquê Este Mundo - Uma Biografia de Clarice Lispector” (Relógio d’Água) — Benjamin Moser
- “Todos os Contos” (Relógio d’Água) — Clarice Lispector
- “Sontag: Her Life and Work” (Ecco) — Benjamin Moser (Sem edição portuguesa)
- Toda a obra de Nuno Júdice e Maria Teresa Horta
Já em fevereiro, o tema em debate foi o amor e as suas circunstâncias, tão duras quanto necessárias. A conversa teve livros em dose dupla: foi sobre “O Ano do Pensamento Mágico” (Cultura Editora), de Joan Didion — brutal reflexão sobre o amor e o luto, debruçando-se sobre a morte do marido da escritora norte-americana, enquanto a sua filha está hospitalizada — e “A Única História” (Quetzal), de Julian Barnes — em que um homem reflete sobre o seu primeiro amor, quando tinha 19 anos e se apaixonou por uma mulher de 48.
A convidada para esta sessão foi Inês Maria Menezes, radialista e escritora que em novembro publicou “Coração Ainda Bate”, pela Contraponto. Nas suas sugestões, como não podia deixar de ser, o amor foi o mote:
- “Apenas Miúdos” (Quetzal) — Patti Smith
- “O Problema de Ser Norte” (Deriva Editores) – Filipa Leal
- “Meia-noite Todo o Dia” (Editorial Teorema) – Hanif Kureishi
Em março, e mudando das lágrimas para o riso, discutiu-se uma das muitas obras primas de Eça de Queiroz, “A Cidade e as Serras”, em que o escritor aligeira o seu olhar aguçado sobre a sociedade de Oitocentos para antes celebrar a vida rural de Tormes face ao ritmo caótico urbano sem nunca perder o humor.
E foi por isso que a convidada foi a humorista, guionista e escritora Susana Romana. Também aqui houve recomendações para ocupar um ano inteiro, começando por gigantes do passado e valores do presente da literatura brasileira e terminando em obras sobre a própria natureza do humor.
- “Dom Casmurro” (Guerra & Paz) — Machado de Assis
- “O Retorno” (Tinta da China) — Dulce Maria Cardoso
- “State of the Union” (Penguin Books) – Nick Hornby (Sem edição portuguesa)
- “Juliet, Nua” (Editorial Teorema) – Nick Hornby
- “Era Bom se Trocássemos Umas Ideias Sobre o Assunto” (Porto Editora) — Mário de Carvalho
- “Quem Disser o Contrário é Porque Tem Razão” (Porto Editora) — Mário de Carvalho
- “Maria dos Canos Serrados” (Alfaguara) — Ricardo Adolfo
- “Fim” (Companhia das Letras) — Fernanda Torres
- “Depois a Louca Sou Eu” (Tinta da China) — Tati Bernardi
- “Nu, de Botas” (Tinta da China) – António Prata
- “A Doença, o Sofrimento e a Morte Entram num Bar” (Tinta da China) – Ricardo Araújo Pereira
- “Escrever para Comédia” (Cego, Surdo e Mudo) – Susana Romana
Em abril, já que a cerimónia dos Óscares se atrasou este ano devido à pandemia, aproveitou-se este adiamento para abordar a adaptação de filmes para cinema. A cobaia para esta experiência foi “O Talentoso Mr. Ripley” (Relógio D'Água), obra de uma das maiores rainhas do thriller, a norte-americana Patricia Highsmith, e a sua passagem para o grande ecrã em 1999 pela mão de Anthony Minghella.
Sendo uma figura de grande experiência nos meandros da televisão, o convidado foi o jornalista, escritor — tem dois romances em seu nome — e diretor de programas Pedro Boucherie Mendes, que também não deixou de apontar algumas recomendações literárias, de ficção e não só:
- “Death in Her Hands” (Vintage) — Ottessa Moshfegh (sem edição portuguesa)
- “Alquimia: O Poder Surpreendente das Ideias Absurdas” (Dom Quixote) — Rory Sutherland
- A obra de Alice Munro
Chegados a meio do ano, e sendo 1 de junho o Dia da Criança, a literatura infantil recebeu o devido destaque através daquele que, para muitos, é o definitivo livro da sua infância. Tão delicado quanto comovente, “O Principezinho”, do francês Antoine de Saint-Exupéry, conta a história de um aviador que, despenhando-se no deserto, conhece um rapaz vindo de outro planeta: o próprio Principezinho.
Quanto a esta exploração da inocência e de como os adultos perdem o maravilhamento com a idade, a conversa foi tida com João Marecos, advogado, consultor e ele próprio autor de um livro infantil, “Carta ao Cavaleiro de Nada” (Livros Horizonte). As suas sugestões, porém, destinaram-se a um público bem mais adulto:
- “Homem Invisível” (Casa de Letras) — Ralph Ellison
- “Amateur: A True Story About What Makes a Man” (Canongate) — Thomas Page McBee (Sem edição portuguesa)
- “Torto Arado” (LeYa) – Itamar Vieira Júnior
Com a vinda do verão, período em que tradicionalmente se tem mais tempo para ler na dolência da toalha de praia, a proposta não foi de escolher um livro para discussão per se, mas sim recomendações para fazer uma biblioterapia sazonal. Nas palavras da convidada, a biblioterapeuta Sandra Barão Nobre, é um “método de apoio ao desenvolvimento pessoal e à resolução de problemas através dos livros”.
Da importância da escrita para a construção da civilização aos traumas da guerra da Jugoslávia, passando pelo luto que une dois progenitores de países desavindos e o legado de desigualdade que o colonialismo português deixou no Brasil. Foram quatro as escolhas em debate:
- “O Infinito num Junco” (Bertrand Editora) — Irene Vallejo
- “Torto Arado” (LeYa) – Itamar Vieira Junior
- “Apeirogon - Viagens Infinitas” (Porto Editora) – Colum McCann
- “Pequenas Cadeiras Vermelhas” (Cavalo de Ferro) – Edna O’Brien
Passado o interregno de agosto, em setembro o clube regressou em força com a presença de João Tordo. O escritor português, mantendo um ritmo de produção assinalável, voltou ao policial este ano: depois de “A Noite em Que o Verão Acabou”, lançado em 2019, lançou “Águas Passadas” (Companhia das Letras), tendo como cenário Cascais e arredores, num período de chuva ininterrupta no inverno e com a investigação de dois crimes brutais.
Numa conversa muito aprofundada sobre as suas motivações enquanto escritor, a produtividade no confinamento ou o que o levou a voltar a este género, não houve muito espaço para recomendações. Todavia, João Tordo deixou uma, para que se leia a autobiografia de um dos grandes vultos da música norte-americana:
- “Born to Run” (Elsinore) - Bruce Springsteen
Pode uma biografia ser também um exercício de ficção? Apenas se for explicitamente um romance, defende José Luís Peixoto, convidado em outubro para falar sobre “Almoço de Domingo” (Quetzal), livro que publicou e que retrata com fidelidade a vida do empresário Rui Nabeiro desde a sua infância humilde, em Campo Maior, no Alentejo.
Além de discutir sobre as nem sempre claras regras do que constitui um romance biográfico — onde se pode tomar liberdades, quais os pormenores a manter ou a ignorar —, o escritor deixou várias recomendações, com especial foco na literatura francófona:
- “Catch The Rabbit” (Restless Books) – Lana Bastasic (sem edição portuguesa)
- “Zona” (Dom Quixote) – Mathias Énard
- “O Reino” (Tinta da China) – Emmanuel Carrère
- “A Sétima Função da Linguagem” (Quetzal) – Laurent Binet
O ano estava a caminhar a passos largos para o fim, mas o “É Desta Que Leio Isto” ainda teria o privilégio de receber duas sessões. A de novembro, mais do que uma sessão, foi quase um workshop de como fazer banda desenhada, levado a cabo pela dupla de Filipe Melo e Juan Cavia. A recente reedição de “Balada de Sophie” (Companhia das Letras) foi o pretexto para uma longa conversa sobre o mundo da narrativa gráfica, as suas diferenças e pontos de contacto com a ficção escrita.
Transbordando paixão pelo mundo da literatura, ambos terminaram a sessão com várias recomendações. Se Juan Cavia — ilustrador e diretor de arte argentino — optou mais por livros de banda desenhada, Filipe Melo — pianista, realizador de cinema e guionista — deixou algumas sugestões mais variadas.
Juan Cavia:
- “El Eternauta” (Doedytores) — Hector German Oesterheld e Francisco Solano Lopez (sem edição portuguesa)
- “Maus” (Bertrand Editores) — Art Spiegelman
- “Emigrantes” (Kalandraka) — Shaun Tan
- “À Travers” (Thierry Magnier) — Tom Haugomat (sem edição portuguesa)
Filipe Melo:
- “Metamaus” (Penguin Books) — Art Spiegelman (sem edição portuguesa)
- “António José de Barros Veloso - Uma vida, vários mundos” (By the Book) — Margarida Almeida Bastos
- “Life Notes” (Edição de Autor) — Ennio Morricone (sem edição portuguesa)
A terminar este ano de 2021, a última convidada foi a escritora e tradutora Tânia Ganho, que veio falar sobre “Apneia”, o seu romance cuja trama se centra no conflito brutal entre dois pais divorciados que disputam a custódia do seu filho. À violência psicológica exercida sobre a criança, junta-se a burocracia fria e interminável da justiça, sendo um retrato do inferno que muitos têm de atravessar em Portugal.
Além de falar sobre o tempo que lhe levou a preparar este livro, a própria natureza dos conflitos e a forma como se deixa (ou não) consumir pelas personagens que constrói, Tânia Ganho, dada a sua extensa experiência de tradução, teve muitos livros a recomendar, grande parte deles por si traduzidos. A escritora, todavia, quis ressalvar que não foi um exercício de egocentrismo, mas o caso dos últimos textos em que trabalhou todos eles a maravilharam:
- “Destino - Uma história italiana” (Edições Asa) — Raffaella Romagnolo
- “Os Profetas” (Edições Asa) — Robert Jones, Jr.
- “Shuggie Bain” (Alfaguara) — Douglas Stuart
- “Quatro Contos Consonantes” (Ponto de Fuga) — Margaret Atwood e Sebastião Peixoto
- “A Anomalia” (Editorial Presença) — Hervé Le Tellier
- “Açúcar Queimado” (Dom Quixote) — Avni Doshi
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