“O complexo inclui uma grande rede de túneis que ligam esconderijos terroristas, escritórios, apartamentos e residências pertencentes a altos líderes do Hamas. Este complexo, tanto acima como no subsolo, era um centro de poder para as suas alas militares e políticas”, relatou o tenente-coronel Peter Lerner, citado pela agência EFE.

A área que o Exército agora afirma controlar, após um mês de intensos combates desde que entrou na Cidade de Gaza, inclui a Praça Palestina, onde estão localizados numerosos edifícios governamentais e, segundo Israel, é o “centro da rede de túneis do Hamas, que liga aos redutos dos líderes do grupo e com os hospitais Al-Shifa ou Al-Rantisi”.

Israel acusou o Hamas de utilizar os hospitais da Faixa de Gaza como quartéis militares, esconderijos e armazéns de armas e, sob esse pretexto, sitiou e atacou quase todos os hospitais no norte do enclave palestiniano.

Nos combates dos últimos dias em Rimal, participaram as unidades de elite Shaldag, Salete e Yahalom, e cerca de 600 combatentes das Brigadas Al-Qasam, braço armado do Hamas, “foram eliminados” tanto em operações terrestres como aéreas, indicou o Exército israelita.

Lerner explicou que foram encontrados poços de túneis nas residências e escritórios de altos funcionários do Hamas no bairro de Rimal e até elevadores, permitindo-lhes “escapar e permanecer em esconderijos por períodos prolongados”, além de numerosas armas.

“[A rede de túneis] inclui portas blindadas e esconderijos. Em alguns casos foram encontrados produtos alimentares, água e infraestruturas elétricas que permitiram estadas prolongadas”, disse Lerner, e era utilizada, segundo os militares, pelos dirigentes da organização, incluindo Ismail Haniya, Yahya Sinwar e Mohamed Deif, para dirigir a atividade operacional do Hamas.

Haniyah é o chefe do gabinete político do Hamas, mas está em autoexílio no Qatar há mais de uma década. Mas Sinwar e Deif ainda se encontram supostamente escondidos nos túneis subterrâneos na Faixa de Gaza e são considerados o verdadeiro poder oculto dentro da organização islamita.

Sinwar é o líder do grupo dentro do enclave e que todos os analistas apontam como a pessoa por quem passam todas as decisões importantes e também como o autor intelectual do brutal ataque do Hamas contra o território israelita em 07 de outubro, que deixou mais de 1.200 mortos e 240 sequestrados.

Embora Deif seja o chefe militar das Brigadas Al-Qasam, e que Israel acreditou ser tetraplégico durante anos, os vídeos encontrados durante a incursão terrestre podem indicar que ele está com melhor saúde, de acordo com o que a imprensa israelita publicou hoje citando fontes militares.

Além de assumir o controlo de Rimal, Lerner informou que as tropas israelitas continuam as suas operações noutras partes da Faixa de Gaza consideradas redutos como Hamas, como Shujaiya, um bairro nos arredores da cidade de Gaza que tem sido palco de violentos combates nos últimos dias e a zona norte do enclave onde Israel encontrou a maior oposição militar.

Lerner destacou que as unidades israelitas ainda operam em “áreas limitadas” de Jabalia, no norte do território, depois de na terça-feira terem conseguido o controlo quase total daquela cidade, após a “rendição” de cerca de 500 supostos membros do Hamas.

Depois de consolidar o seu controlo no norte, Israel concentra os seus esforços militares em Khan Younis, o reduto do Hamas no sul e local de nascimento de Yahya Sinwar, em cujos túneis o Exército israelita acredita que ele esteja escondido.

Os meios de comunicação israelitas disseram hoje que as tropas de Telavive acreditam que estiveram prestes a capturá-lo nos túneis daquela cidade em duas ocasiões recentemente, mas ele escapou.

“Khan Younis é um centro de gravidade para o Hamas. É um grande desafio travar uma guerra urbana naquela área, uma vez que toda a esfera civil foi armada pelo Hamas”, disse o porta-voz israelita.

Por sua vez, as Brigadas Al-Qasam declaram hoje que nos últimos dias opuseram forte resistência contra “as forças sionistas da ocupação” na Cidade de Gaza, Jabalia e Khan Younis; e que mataram soldados israelitas atacando veículos militares e com francoatiradores.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse hoje que continuará “a guerra até o fim”, diminuindo as esperanças de um cessar-fogo, que está a ser negociado no Egito.

Após um ataque sem precedentes do Hamas que causou cerca de 1.200 mortes e cerca de 240 sequestros em território israelita em 07 de outubro, o Exército de Telavive conduziu desde então uma poderosa ofensiva aérea, terrestre e marítima na Faixa de Gaza.

A operação militar já deixou mais de 19 mil mortos e acima de 51 mil feridos, a maioria dos quais mulheres, crianças e idosos, segundo números das autoridades locais de Gaza, controladas pelo grupo islamita palestiniano, bem como 1,9 milhões de deslocados, 85% da população total do enclave, de acordo com a ONU.