Não há momento político mais desinteressante do que as duas semanas a seguir a umas eleições. Concluídos dois ou três meses de bebedeira eleitoral, segue-se um microciclo mediático em que os analistas políticos coçam a cabeça à procura de temas para os seus espaços de opinião, com a confusão de quem está de ressaca e olha para um frigorífico vazio enquanto desespera por nutrientes. O tema-Guronsan das legislativas de 2019 foi a saia do assessor da Joacine, o mote-Ben-u-Ron para o desmame deste ano foi a eleição dos vice-presidentes da Assembleia da República.

Assisti à participação de Diogo Pacheco de Amorim, a escolha do Chega para vice da Assembleia, no debate desta segunda-feira na SIC Notícias e a minha conclusão é simples: o homem ofega imenso. Muito, mesmo. Conheço aspiradores industriais que fazem menos barulho. Dificilmente terá capacidades para exercer a função de Vice-Presidente do Parlamento, uma vez que tem dificuldade em exercer a função respiratória. Acima de tudo, é preciso ar para vice-presidir à AR.

Por isso estranhei que não tivesse retirado as suas afirmações de que “a nossa cor de origem branca e a nossa raça é a raça caucasiana”. É que, publicamente, Diogo Pacheco de Amorim aparece roxo. Depois de “Deus, Pátria, Família e Trabalho”, é só mais um slogan do Chega que assenta em premissas que os seus dirigentes não cumprem. Na verdade, o Chega é um partido pusilânime. Lança bordões agressivos para a discussão, mas depois desdobra-se em explicações que os desvalorizam. Perderíamos menos tempo em indignação generalizada se os enquadrássemos na categoria a que pertencem: o dog whistle, a utilização de frases e termos ambíguos que instigam as bases radicais, simultaneamente dando espaço a interpretações ingénuas do que foi dito. Mas em Portugal os cães ladram e a caravana pára.

Normalizar o Chega, no sentido de o tratar institucionalmente como um partido que não ameaça as instituições, é perigoso. Por outro lado, discutir com os seus dirigentes como se o seu eleitorado fosse sensatamente aderir ao nosso argumentário é contraproducente. Em tempos, celebrámos o facto de sermos o último país da Europa sem extrema-direita no Parlamento. Hoje, se calhar dava jeito perguntar aos que chegaram aqui antes como é que lidaram com isto.

No entanto, não ganhamos nada em hostilizar quem normaliza o Chega. Antes, normalizemos quem normaliza o Chega. A minha solidariedade, João Miguel Tavares. Não ter tema para uma crónica na semana a seguir a eleições e acabar a defender o indefensável é a coisa mais normal do Mundo.