Desconfinar com "um justo equilíbrio"

Abílio dos Reis
Abílio dos Reis

Sem surpresa, o parlamento aprovou nova renovação do Estado de Emergência, com o sentido de voto a ser o mesmo que se verificou nas seis anteriores renovações: a favor estiveram PS, PSD, CDS-PP e PAN e a deputada não inscrita Cristina Rodrigues; do lado do contra o PCP, Chega, Iniciativa Liberal e a deputada não-inscrita Joacine Katar Moreira. Por fim, o BE, absteve-se.

A realidade é que a votação dificilmente é a parte do debate de hoje na Assembleia da República que vai dar que falar. Talvez por serem já muitas votações e já andarmos nisto desde novembro, talvez porque depois de mais uma reunião do Infarmed, com um dos peritos a dar conta de que Portugal pode chegar "às linhas vermelhas" dentro de duas semanas, a atenção está agora focada naquilo que vai decidir amanhã o Governo em Conselho de Ministros. O desconfinamento avança como planeado ou vão existir nuances em alguns concelhos ou regiões?

Hoje, na sua intervenção no parlamento, o Ministro da Administração Interna deu algumas pistas do que aí vem. Mais concretamente, aludiu ao facto de que a existirem ou a serem adoptadas medidas de restrição, tal sucederá com o devido "justo equilíbrio".

"O Governo não deixará de adotar um justo equilíbrio entre a vontade e necessidade de desconfinamento e a absoluta determinação de medidas restritivas ou de eventual pausa e suspensão no processo de reabertura onde tal seja necessário", frisou Eduardo Cabrita.

As opiniões sobre como, quando e em que moldes deve ou não avançar o desconfinamento são variadas. Por exemplo, a Ordem dos Médicos enfatiza que as datas do plano podem continuar, mas que é preciso ter noção de que este é "um momento crítico para evitar que se desconfine mal". Por outro lado, o PSD crê que talvez não seja boa ideia avançar já com algo "global", especialmente "naqueles concelhos que estão com os indicadores de risco mais elevados". Numa coisa, no entanto, estão de acordo: em levar a cabo uma "testagem massiva".

Ora, a testagem foi precisamente um tópico que levou Marta Temido a rebater no parlamento algumas vozes que dão conta que Portugal "testa pouco" ou "testa menos", nomeadamente pela métrica de testes realizada por 100 mil habitantes. Acontece que a governante afirmou hoje em bom tom que tal "não é verdade" e explica que a quebra do número de testes se deve à diminuição de casos de infeção.

"Não é verdade que Portugal esteja nos últimos lugares no lugar de testes por 100 mil habitantes. Não é verdade. O gráfico [que tinha na mão] demonstra-o bem. Como é que podemos pedir aos outros que confiem em nós se dizemos mentiras?", frisou.

A questão que impera nesta quarta-feira é: será mesmo a última renovação do estado de emergência? Marcelo Rebelo de Sousa gostava que assim fosse. Na semana passada foi esse o seu desejo expressado, de modo a que coincidisse com o "fim do mês de abril". O mesmo voto foi expressado hoje por Eduardo Cabrita, num discurso em que salientou que existe "uma vontade genuína de todos para que este seja o último estado de emergência em Portugal".

Aguardemos então pela decisão do Governo de amanhã para saber qual "será o justo equilíbrio" ou se tudo se mantém como planeado.

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