Quando um isolamento profilático pode ser pouco pragmático

Tomás Albino Gomes
Tomás Albino Gomes

Não me interpretem mal pelo título que escolhi para este texto. O meu objetivo não é, de todo, desvalorizar as medidas de combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus. Quero antes recuperar um tema que adivinho que vá voltar a debate nos próximos dias: o facto de as medidas de prevenção serem iguais para pessoas que estão vacinadas contra a covid-19 e para as que ainda não foram imunizadas contra a doença.

O tema ganhou palco quando, no passado dia 30 de junho, o primeiro-ministro António Costa, já vacinado com duas doses da vacina da Astrazeneca, foi colocado em isolamento profilático após ter tido contacto direto com um membro do seu gabinete que testou positivo à covid-19.

Foram várias as pessoas que se questionaram sobre a medida tomada, uma vez que o líder do governo já tinha sido imunizado contra a doença provocada pelo vírus SARS-CoV-2. Uma dessas pessoas foi o Presidente da República.

“Isto tem de ser explicado, para que não haja a ideia errada de que a vacina não serve para nada. (...) Tem de se explicar bem, para que não apareça como uma desvalorização da vacina”, disse Marcelo Rebelo de Sousa na altura.

Hoje, pelas 21h45 a Direção-Geral da Saúde enviou um comunicado para as redações onde informava que a "Diretora-Geral da Saúde, Graça Freitas, encontra-se a cumprir isolamento profilático após exposição a um caso positivo de COVID-19 na passada sexta-feira, dia 9 de julho".

Segundo a mesma nota, "as autoridades de saúde que realizaram o inquérito epidemiológico consideraram estar perante um contacto de alto risco, dando cumprimento ao disposto nas normas da Direção-Geral da Saúde".

Recorde-se que Graça Freitas já recuperou da doença, depois de ter sido notícia a sua doença no início de dezembro de 2020, e já foi vacinada há mais de 14 dias.

Sabemos que a vacinação não elimina a possibilidade de transmissão do vírus ou de infeção. Sabemos que a vacina é altamente eficaz contra a forma de doença grave e possibilidade de morte. Mas continua a não existir uma explicação detalhada do porquê destas decisões perante uma pessoa que já recuperou da doença e que já foi vacinada.

Se a lógica não é explicada pode (voltar a) gerar interrogações sobre o real efeito da vacina e da grande vacinação em que não só Portugal como todo o mundo está a investir para recuperar a vida normal.

E tal torna-se urgente quando surgem notícias sobre o aumento de casos de pessoas que não aparecem nos centros de vacinação para cumprir o agendamento e receber a vacina. Há duas semanas isso já era notícia e hoje ainda o é. Carla Ares, vogal de enfermagem da ACES Cascais, revelou na SIC Notícias que ainda no domingo passado, no centro de vacinação de São Domingos de Rana, a freguesia mais populosa do concelho de Cascais, em mais de 1.900 agendamentos faltaram cerca de 600 pessoas, a maioria jovens nas faixas etárias a rondar os 30 anos.

Não sei se o isolamento é a medida mais pragmática tendo em conta o atual contexto pandémico e de vacinação, mas ao nível da comunicação para com os cidadãos peca na explicação. Explicação essa que tem de ser mais elaborada do que a última em que se invocou o "princípio da precaução".

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