Quente, seco e fumarento: assim vai o verão em Portugal e na Europa

Ana Damázio
Ana Damázio

Todos sabemos que altas temperaturas e fogo não são amigos e, como se não bastasse esta inimizade entre os dois elementos, anda por aí quem goste de "atirar lenha" à incendiosa (não) relação.

Se antes o verão era como dizer "é tempo de praia, apanhar sol e dar uns mergulhos", de há uns anos para cá tornou-se também a "época da tortura". Verão é, em Portugal e em muitos países da Europa, oficialmente a época dos incêndios.

Seja pelas ditas "causas naturais" ou pela destruidora mão humana, o aumento dramático não só do número de incêndios, mas de vidas, hectares de mato e materiais perdidos assusta qualquer um que, num piscar de olhos, pode ver uma pequena labareda tornar-se numa chama que tudo leva.

Não é preciso recuar muito no tempo para relembrarmos o que os incêndios causam. Pelos piores motivos, o ano de 2017, marcado pela tragédia de Pedrógão Grande e pelos incêndios na Madeira, deverá estar bem presente nas mentes de cada um.

E, ano após ano, o mesmo acontece.

Esta semana, por exemplo, o SAPO24 noticiou, entre outros incêndios, os dois maiores incêndios do ano em Portugal até agora e, provavelmente, o maior até ao momento na Europa, que ocorreu em Atenas, na Grécia.

De acordo com a Lusa, o alerta para o incêndio em Vimioso, no distrito de Bragança, foi dado às 19h55 de sábado. O fogo, ao que tudo indica, terá sido causado por trovoada seca.

Com a presença de mais de 200 operacionais, apoiados por 70 veículos, as chamas foram dadas como dominadas pelas 6h00 de domingo. No entanto, ao início da tarde do dia 11, uma reativação ameaçava habitações e a povoação de São Martinho de Angueira.

Durante a tarde de domingo, os meios aéreos envolvidos no combate às chamas foram reforçados e estiveram no local sete aeronaves.

Após três dias, contabilizou-se a presença de 625 operacionais que foram apoiados por 207 veículos, 11 máquinas de rasto e 17 meios aéreos portugueses e espanhóis.

Novamente às 6h00, desta vez de segunda-feira, o incêndio entrou em fase de resolução. Mas, por esta altura, as chamas lavravam não muito longe, no Parque Natural de Montesinho, também em Bragança.

O alerta para este incêndio foi dado às 19h55 de sábado, chegou a ter duas frentes ativas e no local estiveram quase 300 operacionais, com o apoio de 94 viaturas, seis meios aéreos e algumas máquinas de rasto. As chamas, que não representaram qualquer risco para a população e consumiram apenas mato, foram extintas pelas 21h00 da passada segunda-feira.

Já na quarta-feira, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) classificou o incêndio que deflagrou no sábado, no concelho de Vimioso, como o maior registado desde janeiro, com uma área ardida provisória de 2.182 hectares de terreno.

Por outro lado, o incêndio no Parque Natural de Montesinho, em Soutelo e Carragosa, tem uma área, igualmente provisória, de 490 hectares de terreno consumida pelas chamas, sendo o segundo maior registado este ano.

No total, os dois incêndios de Bragança foram combatidos por 1.246 bombeiros.

Nos últimos dias, a braços com grandes incêndios florestais esteve também a Grécia. Ainda no domingo, depois de as chamas rodearem a cidade de Atenas, foi necessário evacuar várias localidades, incluindo, hospitais pediátricos e militares.

Nos dias que se seguiram, o país registou, pelo menos, um morto e quase uma centena de feridos. Ao quarto dia de incêndios, o fogo continuava sem dar tréguas aos bombeiros e já mais de 10 mil hectares tinham ardido e milhares de pessoas estavam deslocadas, tendo perdido todos os seus bens materiais.

As altas temperaturas, que rondavam os 39.ºC, e os ventos superiores a 50 km/h foram fatores que dificultaram o trabalho dos profissionais.

Segundo a Lusa, que citou o Observatório Nacional de Atenas, embora as temperaturas atuais na Grécia sejam normais para a estação do ano, duas ondas de calor extremo que o país sofreu em junho e julho, com temperaturas superiores a 44.°C em algumas regiões, incluindo Creta, secaram a vegetação, aumentando o risco de incêndios florestais.

Aliás, o mês de julho deste ano foi mesmo o mais quente na Grécia desde que os registos começaram a ser feitos, em 1960.

Outros incêndios

Estes foram, no entanto, alguns dos muitos incêndios que surgiram durante a semana.

Na quarta-feira, pelas 9h48, foi dado o alerta de um incêndio rural na freguesia da Serra de Água, no concelho da Ribeira Brava, na Madeira. Até esta sexta-feira, pelas 15h, as chamas continuavam a lavrar numa zona de difícil acesso, mas já em direção ao Curral das Freiras.

Já na quinta-feira, pelas 14h16, foi dado o alerta para um incêndio de grandes dimensões, numa zona de mato, na localidade de Geraz do Lima, no distrito de Viana do Castelo. Nas horas seguintes estiveram no local 80 operacionais, apoiados por 24 viaturas e cinco meios aéreos.

No mesmo dia deflagrou um outro incêndio em Vila Ruiva, no concelho de Fornos de Algodres, no distrito da Guarda. Já hoje lavrava outro incêndio numa zona de mato em Vila Boa do Mondego, no concelho de Celorico da Beira, também no mesmo concelho.

Avisos e precauções

Desde segunda-feira que o IPMA tem alertado para o risco de incêndio em vários concelhos. Em risco elevado estiveram dezenas de concelhos dos distritos de Viana do Castelo, Vila Real, Braga, Porto, Aveiro, Viseu, Coimbra, Leiria, Lisboa, Portalegre, Évora, Beja e Faro.

Na terça-feira foi dia de incluir mais alguns concelhos no risco muito elevado ou elevado de incêndio. Em risco muito elevado estavam cerca de 80 concelhos de distritos como Bragança, Vila Real, Porto, Aveiro, Viseu, Coimbra, Leiria, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Santarém, Beja e Faro.

Já esta sexta-feira, o IPMA reforçou os alertas não só para os incêndios, como para as temperaturas de 40 graus que se podiam fazer sentir.

De forma a evitar que mais incêndios deflagrem nestes dias de calor, a Proteção Civil impôs algumas medidas:

  • Proibidas queimadas extensivas ou de amontoados;
  • Proibida a utilização de fogo para a confeção de alimentos no espaço rural;
  • Proibido fumigar ou desinfestar apiários;
  • Proibido o uso de motorroçadoras, corta-matos, destroçadores e outros equipamentos que gerem faísca ou calor;
  • Proibida a operação de métodos mecânicos com faísca ou calor.

Já quanto aos cuidados a ter com a saúde devido ao calor, as autoridades aconselham, além da atenção especial a doentes crónicos, crianças e idosos, o seguinte:

  • Aumento da ingestão de água;
  • Refeições leves e frescas;
  • Aplicação de protetor solar superior a 30;
  • Uso de chapéu e roupas claras e frescas;
  • Refrescar com água ao longo do dia.

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