Bombeiros em protesto, discussões sobre patrões e falhas de segurança

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

Centenas de bombeiros sapadores fardados de todo o país ocuparam hoje às 13:00 as escadarias de acesso à Assembleia da República enquanto a polícia formava um cordão à entrada do parlamento. O protesto durou até às 15:00.

Ao fundo da escadaria, os manifestantes incendiaram vários pneus e queimaram um fato de trabalho dos bombeiros, enquanto os gritavam a palavra “vergonha”, responsabilizando os decisores políticos pela situação da classe.

O que pedem os bombeiros sapadores?

Os sapadores exigem um aumento salarial para compensar a subida da inflação, idêntico ao que foi dado em 2023 pelo anterior Governo aos polícias, e um subsídio de risco semelhante ao que foi dado às forças de segurança.

Pedem ainda uma regulamentação do horário de trabalho, a reforma aos 50 anos e um regime de avaliação específico.

O que diz o Governo sobre as negociações?

A ministra da Administração Interna mostrou-se confiante de que as negociações com os bombeiros “estão a decorrer a um bom ritmo” e vão chegar “a um bom termo”.

E deixou um alerta. “Os bombeiros sapadores que estão a manifestar-se em frente à Assembleia da República são bombeiros cujo patrão não é o Estado, são bombeiros que dependem das autarquias”, disse Margarida Blasco, numa declaração sem direito a perguntas no Palácio de São Bento.

A ministra salientou que as reivindicações dos bombeiros sapadores duram “há 22 anos” e “estão a tentar e vão conseguir ter um estatuto do bombeiro”.

Margarida Blasco avançou que neste momento estão a decorrer negociações, tendo a última reunião acontecido na última sexta-feira.

O protesto ultrapassou o esperado. O que dizem os bombeiros?

O Sindicato Nacional dos Bombeiros Sapadores responsabilizou o Governo por o protesto diante do parlamento ter ido além do que estava autorizado, com centenas de manifestantes a invadirem a escadaria e a obrigarem à intervenção da polícia.

“Sei que eles têm razão nos protestos, o que motivou isto foi o senhor secretário de Estado ter marcado uma reunião e, no fim, voltou a dizer que não tinha nada para apresentar. Qualquer pessoa normal devia perceber que não podemos faltar à verdade aos bombeiros… Se já andam revoltados, a probabilidade de isto acontecer era muito elevada. O culpado disto tudo acaba por ser o Governo”, afirmou o presidente.

Ricardo Cunha assumiu que o protesto “foi além do que estava legalizado” e confessou não saber quais possam ser as repercussões para os bombeiros, anunciando que a direção do sindicato vai reunir-se “para perceber o que correu mal”.

Para o responsável, “parece que o Governo estava à espera de que isto acontecesse”, frisou, referindo-se ao aparato dos protestos diante da Assembleia da República. “Se era disso que estava à espera, acabou por acontecer”.

Ricardo Cunha desafiou também o Governo a apresentar uma proposta negocial, após a ministra da Administração Interna se ter mostrado confiante de que as negociações vão chegar a um bom termo.

Houve falhas de segurança para o protesto escalar?

A PSP rejeitou que tenha havido falhas no planeamento do dispositivo de segurança para a concentração dos bombeiros sapadores na Assembleia da República, embora admitindo imprevistos que obrigaram ao desvio de meios.

O chefe da Área Operacional do Comando Metropolitano de Lisboa da PSP, Manuel Gonçalves, explicou que a PSP faz, antes de cada manifestação, “uma avaliação prévia”, com base no histórico das manifestações organizadas pelo mesmo grupo de pessoas, sendo que os bombeiros sapadores já tinham estado no mesmo local “há várias semanas e sempre de forma pacífica, ordeira”.

“Nós partimos também do princípio, em função do histórico, que esta também seria, mas preparados para intervir em caso de necessidade”, frisou.

No entanto, Manuel Gonçalves salientou que, do contingente inicial que tinha sido mobilizado na Assembleia da República, alguns meios tiveram de ser desviados, designadamente para o reforço de segurança junto à sede do PS no Largo do Rato.

Ou seja, uma planificação inicial que se resumia a ter a garantia da segurança junto à Assembleia da República nos moldes habituais, digamos assim, tornou-se de repente num posicionamento dinâmico em que, para além daquilo que aqui estava, tínhamos desfiles a decorrer em dois pontos distintos em direção a este local”, referiu.

A partir desse momento, prosseguiu o superintendente, o Corpo de Intervenção da PSP foi colocado de prevenção, tendo-se deslocado para a Assembleia da República, onde a situação estava “minimamente controlada”.

“Para nós, o facto de não ter havido nenhuma ação hostil da parte dos bombeiros é essencial na nossa reação. E, como tal, nós contivemos no cimo da escadaria este grupo de bombeiros e, a partir daí, houve um diálogo constante para lhes dar a entender que o posicionamento deles não era o mais adequado e nós, se necessário, iríamos intervir para que a ordem pública fosse retomada”, disse.

Apesar de tudo, a PSP vai participar ao Ministério Público a manifestação de hoje, considerando que foi violado um conjunto de regras, como a ocupação da escadaria.

Segundo Manuel Gonçalves, uma das situações está relacionada com a ocupação da escadaria da Assembleia da República e pode estar em causa “a invasão de um espaço limitado”.

Outra das situações, avançou, tem a ver com a realização por alguns bombeiros sapadores de dois desfiles que não foram comunicados à autoridades.

*Com Lusa

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