Se esta semana fosse uma quadra de Santo António

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Se esta semana fosse uma quadra de Santo António
Hugo David | MadreMedia

Aquela que é uma das noites mais longas do ano foi curta. Mas o mesmo não se pode dizer da semana que agora termina.

Com a ajuda de uma quadra de Santo António, a semana foi assim:

O Centeno já se demitiu
O Orçamento é suplementar
Portugal não pode fazer de conta que esta pandemia não existiu
E Lisboa não saiu para marchar

Segunda-feira

A Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP) anunciou que iria apresentar uma queixa no Ministério Público contra manifestantes que exibiram, durante a manifestação contra o racismo no Porto, cartazes com frases como "Polícia Bom é Polícia Morto", mensagens que a PSP diz ser "de incentivo à violência contra polícias e, portanto, passíveis de se constituírem como ilícitos criminais". No mesmo dia, a PSP informou que identificou um dos suspeitos, "sendo expetável que outras identificações sejam entretanto apuradas".

Em Lisboa, durante a madrugada, cerca de uma dezena de seguranças privados entrou no Seara - Centro de Apoio Mútuo de Santa Bárbara, em Arroios, para tentar despejar as pessoas que ali se encontravam. Ao final da tarde, várias pessoas ficaram feridas, incluindo três agentes da PSP, na sequência de uma tentativa de entrada no centro de apoio a carenciados, criado por um grupo de pessoas que ocupou um antigo infantário abandonado.

Terça-feira

Saiu Centeno, entrou Leão. O Ronaldo das Finanças pediu para ser substituído e Costa chamou à equipa principal o secretário de Estado do Orçamento, João Leão.

A tomada de posse do novo ministro e dos novos secretários de Estado irá acontecer na próxima segunda-feira, pelas 10:00, no Palácio de Belém, "numa cerimónia restrita e sem outros convidados, dadas as atuais regras de saúde pública".

Ainda nesse dia, Centeno apresentou o Orçamento Suplementar para 2020. "Este vai ser um ano difícil para a economia e para as finanças públicas", alertou o ainda governante naquele que foi o último ato público enquanto ministro.

O documento, que surge como resposta à crise provocada pela covid-19, reflete o Programa de Estabilização Económica e Social e prevê, entre outras medidas, um reforço adicional do orçamento do Serviço Nacional de Saúde (SNS) de 500 milhões de euros, um défice de 6,3% e um rácio da dívida pública face ao Produto Interno Bruto (PIB) de 134,4%.

Quarta-feira

10 de junho. O Presidente da República assinalou o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas com um programa mínimo no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa.

"Portugal não pode fingir que não existiu e existe pandemia, como não pode fingir que não existiu e existe brutal crise económica e financeira. E este 10 de Junho de 2020 é o exato momento para acordarmos todos para essa realidade", afirmou Marcelo no tradicional discurso.

Mas o discurso do Presidente não foi o único que marcou o dia. O cardeal e poeta madeirense Tolentino Mendonça, que presidiu às comemorações deste ano, dirigiu-se "às mulheres e aos homens" do país e evocou Luís Vaz de Camões.

"Camões desconfinou Portugal no século XVI e continua a ser, para a nossa época, um preclaro mestre da arte do desconfinamento, porque desconfinar não é simplesmente voltar a ocupar um espaço, mas é poder, sim, habitá-lo plenamente, poder modelá-lo de forma criativa, com forças e intensidades novas, sentir-se protagonista de um projeto mais amplo e em construção que a todos diz respeito. Desconfinar é não se conformar com os limites da linguagem, das ideias, dos modelos e do próprio tempo", lembrou Tolentino Mendonça.

Quinta-feira

A estátua de Padre António Vieira foi vandalizada. Instalada no Largo Trindade Coelho, em Lisboa, em 2017, a estátua foi vandalizada com tinta vermelha, tendo sido escrito a palavra "descolonização" no seu pedestal.

No mesmo dia, a PSP anunciou que procura identificar autores e a Câmara Municipal de Lisboa condenou o ato.

No seguimento a morte do norte-americano George Floyd e das manifestações que se lhe seguiram, vários monumentos têm sido vandalizados e derrubados em cidades dos Estados Unidos, mas também na Europa, por serem associados ao racismo e a períodos da escravatura por alguns movimentos.

Sexta-feira

A véspera do Dia de Santo António, auge das Festas de Lisboa, ficou marcada pelo histórico cancelamento dos festejos e a proibição dos tradicionais arraiais populares, devido à pandemia. A Avenida da Liberdade não se encheu de versos nem de marchantes e nos bairros da capital reinou o silêncio.

De acordo com o boletim divulgado nesta sexta-feira pela Direção-Geral da Saúde, Portugal registou apenas um óbito. É preciso recuar até 19 de março para encontrar um número de mortes tão baixo.

Sábado

O Governo prolongou até ao final do mês a proibição de voos de e para países fora da União Europeia, no âmbito das medidas de contenção de propagação da covid-19.

O SOS Racismo negou a “autoria moral das pinturas na estátua” do Padre António Vieira e condenou as mensagens “xenófobas, racistas e de incitamento ao ódio” encontradas em Lisboa, que considerou “uma ameaça à ordem constitucional”.

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