O grande livro da realidade

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

23 de abril, Dia Mundial do Livro. Vivemos uma pandemia mundial, realmente digna de constar nas páginas de um grande livro que, até aqui, seria uma qualquer obra de ficção. Mas é real. Está mesmo a acontecer — e escrevemos precisamente sobre isso. Vejamos então alguns capítulos que marcam a atualidade no país e no mundo.

I. Equilíbrio entre picos e planaltos

Portugal regista hoje 820 mortos associados à Covid-19, mais 35 do que na quarta-feira, e 22.353 infetados (mais 371). Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, referiu em conferência de imprensa que o planalto apresenta "tendência decrescente", mas ainda é cedo para conclusões. Estamos, portanto, no "ponto de equilíbrio" da pandemia no país. É preciso manter todos os cuidados para não tropeçarmos.

Além das coisas mais práticas que podemos fazer, para não tropeçarmos — manter o distanciamento social, lavar as mãos, manter a etiqueta respiratória — é preciso ainda estar bem informado. Nesse sentido, o SAPO24 reorganizou o site de forma a ajustar tudo às necessidades de informação deste tempo diferente que vivemos. Saiba tudo aqui.

II. A febre das máscaras e do desinfetante

Foi aprovado em Conselho de Ministros um decreto-lei que baixa o IVA da venda de máscaras de proteção respiratória e de gel desinfetante para 6%, para além de isentar fornecedores de hospitais na venda de vários equipamentos. A aprovação da taxa reduzida foi anunciada na quarta-feira pelo primeiro-ministro, durante o debate quinzenal, e resulta de uma medida proposta pelo líder do PSD, Rui Rio, na semana passada.

III. Parar, mas nunca parar de aprender 

Os miúdos estão em casa e têm a telescola ou o #EstudoEmCasa, mas os graúdos também podem aprender algo novo, haja tempo (e vontade) para isso. Contando com a parceria de universidades prestigiadas, como Harvard ou John Hopkins, e empresas, como a Google ou a IBM, são vários os cursos online que se podem fazer gratuitamente. Seja design digital, análise de mercados ou sobre a ciência da felicidade, são várias plataformas onde é possível aprender de tudo um pouco.

IV. As Rapunzel da pandemia

Apesar das notícias que davam como certa a reabertura dos cabeleireiros, barbeiros e institutos de beleza já no final deste estado de emergência, as associações do setor lembram que a decisão ainda não foi tomada e alertam para o perigo da desinformação. Parece que ainda vamos ter de esperar — ou arriscar e ver se há jeito para a tesoura.

V. Os números, uns atrás dos outros, e as histórias

O planeta anda às voltas com a matemática. São os números, a par das letras, que contam a história dos dias — em várias vertentes. A pandemia de covid-19 já ultrapassou os 2,6 milhões de infetados e matou mais de 183 mil pessoas em todo o mundo desde que surgiu. Espanha registou, nas últimas 24 horas, 440 mortes devido ao novo coronavírus, um aumento de cinco em relação a quarta-feira, havendo até agora um total de 22.157 óbitos. Itália registou um novo aumento no número de mortes associadas à covid-19, 464, mas mantém a redução de novos casos (2.646) e do número de doentes.  O Reino Unido viu o número de óbitos subir para 18.738 após a morte de mais 616 pessoas infetadas. A Alemanha tem aproximadamente 103.300 pessoas consideradas curadas da covid-19, um aumento de 3.800 em relação ao dia anterior, e um total 148.046 casos de infeção, um valor que subiu 2.352 em 24 horas. Mais longe, nos Estados Unidos, morreram 1.738 pessoas, menos 1.013 óbitos do que no dia anterior, de acordo com a contagem da Universidade Johns Hopkins. E em África existem já 26 mil casos registados da doença e 1.242 mortos em 52 países.

Se perdeu o fim à meada a tantos números, aqui fica a história que junta Portugal e o Reino Unido. Luís Pitarma é o enfermeiro português que acompanhou Boris Johnson no hospital. Hoje, disse ter ficado "comovido" quando o primeiro-ministro britânico agradeceu os cuidados prestados durante a hospitalização com covid-19 e descreveu como "surreal" o telefonema imediato do Presidente da República de Portugal.

VI. As diferentes iniciativas que nos pintam os dias 

Que as boas conversas nunca faltem. Para isso, Samuel Úria está de regresso ao SAPO24, não no formato de crónica semanal, mas à conversa com uma série de convidados a partir da sala de sua casa. "Conversas de roupão" chega já esta sexta-feira, 24 de abril, com Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves, dos Clã, que acabam de lançar um novo single, "Armário", com letra da Capicua e ilustrações do André da Loba.

Mas não ficamos por aqui. O mês de abril vem associado à liberdade, conceito que nos parece estranho quando estamos fechados em casa. Para falar sobre o tema, O Primeiro Capítulo lançou o desafio: escrever sobre liberdade em tempos de pandemia. Os textos não ficaram trancados e vai ser possível ler tudo no próximo sábado, 25 de Abril, aqui no SAPO24.

VII. Mas nem tudo é Covid-19

Parece impossível, mas ainda há outros temas nas notícias, por isso deixo aqui uma história diferente. Hoje, a Polícia Judiciária apreendeu em Vila Nova de Gaia um "importante acervo documental" que fará parte do espólio da extinta PIDE/DGS, a polícia política do Estado Novo. São "documentos relevantes e de um conjunto superior a 700 negativos de clichés fotográficos, aparentemente de fichas biográficas de indivíduos identificados por aquela antiga polícia, classificados pelo nome e respetiva alcunha".

No meio de tudo isto, apresentados que estão estes breves capítulos, aproveito o mote do dia em causa e deixo algumas sugestões, para que possa fazer uma pausa do nosso mundo e mergulhar nas palavras de outros...

... e pensar que há isolamentos mais complicados: estamos fechados nas nossas casas, com as nossas coisas. E se ficássemos presos numa ilha deserta? E se fôssemos crianças nessa situação? É ler O Deus das Moscas, de William Golding, para descobrir tudo.

... e sentir outras epidemias: uma cegueira coletiva, valores colocados em causa, uma balbúrdia geral mas a esperança de que haja um fim. Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, vem mostrar que, mais do que um vírus ou qualquer desgraça, o que importa são as pessoas e os gestos que conseguem ter em situações críticas.

... e viver uma fantasia épica: melhor do que a nossa realidade é termos criaturas fantásticas para ver, paisagens exóticas por onde correr, florestas sombrias onde nos assustarmos e até espadas e amuletos. Em A História Interminável, de Michael Ende, tudo começa com um livro estranho, numa livraria que deixa também muitas dúvidas. E livros dentro de livros são sempre um bom prenúncio.

Entre letras e números, histórias reais e ficção, eu sou a Alexandra Antunes e hoje o dia foi assim.

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