Um destino temido mas esperado, ou como Lisboa voltou a cometer o pecado capital da Covid-19

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Desde os festejos do título do Sporting que se discutia — com mais ou menos propriedade — quando seria a vez de Lisboa parar no desconfinamento devido ao aumento de casos de Covid-19 que lenta, mas seguramente, se começou a verificar na capital nas últimas semanas.

Frise-se: ainda hoje não está comprovado se os ajuntamentos proporcionados pelas celebrações saldaram-se num crescimento efetivo dos casos — o Governo e a DGS negam-no, os especialistas defendem-no —, mas o tema foi lançado e nunca mais deixou de ser discutido desde então.

Os números foram pintando um cenário cada vez mais complicado: na última reunião no Infarmed já tinha sido referido que a Área Metropolitana de Lisboa era a que maior tendência de crescimento de casos apresentava ou que a capital já tinha três vezes mais casos do que aquilo que seria esperado.

Escusando-nos de mergulhar nos boletins e nos relatórios das últimas semanas, olhemos apenas para alguns dos dados mais recentes:

  • No último relatório semanal do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) sobre a evolução da curva da pandemia foi referido que Lisboa e Vale do Tejo era a região do país com um Rt mais elevado, tendo passado, no espaço de uma semana, de 1,14 para 1,16;
  • No último relatório de "Monitorização das linhas vermelhas de covid-19", foi frisado que, medindo a taxa de crescimento, o tempo para atingir a taxa de incidência acumulada a 14 dias de 120 casos/100 000 habitantes era apenas de menos de 15 dias para a região de Lisboa e Vale do Tejo, que já tinha chegado a uma taxa de transmissão R(t) de 1,22.
  • Dos 890 casos registados no boletim epidemiológico hoje publicado pela Direção-Geral da Saúde (DGS), 591 — ou seja, mais de metade — foram identificados em Lisboa e Vale do Tejo.

Sendo prudente sublinhar que a região de Lisboa e Vale do Tejo não se esgota na cidade que lhe dá nome, o consenso tem sido de que é na capital onde recaem os problemas mais agudos.

Se após a reunião do Conselho de Ministros da semana passada já se antecipava que Lisboa pudesse ser travada no novo desconfinamento que chegará a 14 de junho — o que não aconteceu, apenas Odemira e Golegã ficaram para trás —, hoje nem houve espaço para surpresas porque Fernando Medina se antecipou a toda a gente.

Ontem à noite, o presidente da Câmara Municipal fez uso do seu espaço semanal na TVI24 para anunciar que Lisboa, colocada “numa situação que não é fácil”, não iria avançar no desconfinamento. “O número de casos excedeu o patamar dos 120 [casos por 100 mil habitantes], entrou em situação de alerta. Na última semana, o número de casos por 100 mil habitantes continuou a progredir, embora a um ritmo mais lento”, adiantou Medina.

Hoje, ainda antes do anúncio oficial, tanto o primeiro-ministro António Costa como o secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales deram algumas achegas. Se o primeiro disse que não era por ser Lisboa que teria um tratamento diferente do resto do país", o segundo repetiu essa informação, adicionando que Braga estava na mesma situação. Sem mais grandes novidades para dar, quando Mariana Vieira da Silva se apresentou aos jornalistas depois do Conselho de Ministros foi apenas para acrescentar que também Odemira e Vale de Cambra não avançam no desconfinamento.

Segundo a ministra da Presidência, "a situação de Lisboa e Vale do Tejo é preocupante, os números não só têm crescido como há maior abrangência territorial”. “O que vemos é uma incidência nas camadas mais jovens, não vacinadas, e uma dispersão territorial significativa, o que dificulta uma conclusão sobre a origem dos casos. Muitos destes casos estão associados a surtos", adiantou Mariana Vieira da Silva.

A grande questão por responder — e a que tanto Medina como Costa aludiram — é como serão as próximas semanas na capital, se a curva da incidência será domada ou continuará a subir. Estas novidades caem como uma bomba numa fase em que a cidade lamentava não poder celebrar os Santos Populares. Depois de, em 2020, ter passado um verão de restrições enquanto a grande maioria do país desconfinava, o futuro próximo dirá se o destino em 2021 vai ser o mesmo.

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