Impasses sanitários

António Moura dos Santos
António Moura dos Santos

Será que as crianças entre os 5 e os 11 anos vão ser vacinadas em Portugal? E, se sim, quando? Estas são as perguntas que neste momento ecoam nas cabeças de muitos portugueses, mas não foi hoje que obtivemos as respostas.

Durante todo o dia, as redações do país foram esperando por algum tipo de novidade da Comissão Técnica de Vacinação contra a Covid-19, o grupo formado para aconselhar a Direção-Geral da Saúde quanto a quem imunizar contra a doença e em que moldes, mas, à data de publicação deste artigo, nada foi adiantado.

O tema é algo espinhoso. À semelhança do que aconteceu com o processo de vacinação da faixa etária dos 12 aos 15, não há consenso entre especialistas quanto à pertinência ou o nível de perigo que imunizar crianças abaixo dos 11 anos representa — isto, apesar da Agência Europeia do Medicamento ter aprovado a vacina da Pfizer, concluindo que “que os benefícios da Comirnaty [a vacina do laboratório] em crianças dos 5 aos 11 anos de idade superam os riscos”.

Por um lado, este grupo etário tem sido aquele com incidência cumulativa a 14 dias mais elevada, ou seja, mais propenso a espalhar o vírus por não estar vacinado. Por outro, tem sido defendido que as crianças, na generalidade dos casos, ficam infetadas e não doentes, pelo que é preferível concentrar os esforços de vacinação nos grupos de risco.

Recuando há perto de duas semanas, António Costa, quando anunciou as restrições para conter a atual vaga, revelou também que o Governo já tinha calendarizado com a Pfizer a chegada de 300 mil vacinas a 20 de dezembro, destinadas às crianças elegíveis.

Este foi um sinal político que não agradou toda a gente, em especial membros de um grupo de apoio à Comissão Técnica de Vacinação, que vieram a público a 27 de novembro lamentar que tal anúncio consistia na concretização de uma vontade política quando a decisão técnica ainda não tinha sido pensada — a postura preliminar era de oposição à vacinação generalizada às crianças dos 5 aos 11 anos, devendo apenas ser dada aos casos de risco.

“Tal como aconteceu com a vacinação dos adolescentes, vamos ter uma decisão política transvertida de parecer técnico”, disse Francisco Abecasis, o representante da Ordem dos Médicos no grupo de trabalho, ao Expresso. No entanto, tal como nesse primeiro processo, criou-se uma guerra surda de comunicação: no dia seguinte, no que pareceu ser uma espécie de recado público às vozes dissidentes, a DGS emitiu um comunicado não só a dizer que a Comissão Técnica de Vacinação ainda estava a considerar o seu parecer, como a frisar que só a este órgão compete as decisões. Cinco dias depois, as autoridades de saúde voltaram uma vez mais a avisar que o parecer não estava fechado.

Hoje parecia ser o dia da revelação, especialmente depois de António Lacerda Sales afirmar que “vão chegar cerca de 300 mil vacinas no dia 13 de dezembro”, ou seja, antes até da data originalmente lançada. "Estamos neste momento à espera da decisão da Comissão Técnica de Vacinação, que esperamos seja uma decisão favorável, para vacinação das crianças até aos 11 anos, havendo ainda depois dessa decisão o parecer [da Direção-Geral da Saúde], e a nós o que nos compete, enquanto Governo, é ter todo o planeamento e toda a logística (…) para estarmos preparados para vacinar e é isso que estamos a fazer”, disse o secretário de Estado da Saúde. Além disso, também o ministro da Educação disse ter “tudo a postos” para a vacinação das crianças, desejando que o processo “ocorra rapidamente e em grande extensão”.

Tudo se precipitava para que a resposta chegasse… mas manteve-se o impasse. Teremos de esperar até amanhã, talvez, até porque o Natal está a chegar.

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