A pronúncia da cidade ferida na asa

Pedro Soares Botelho
Pedro Soares Botelho

Foi na mesma a noite mais longa do ano, aqui na Invicta. Mas foi diferente. Porto, Gaia e Braga, as cidades do continente onde se festeja o São João com mais força, passaram a noite sem notícia de confusão, ajuntamentos, aglomerados descontrolados. Havia gente nas ruas? Sim, pequenos grupos, famílias numa breve caminhada noturna, a fazer as vezes duma rusga cancelada.

Isto no Porto, que de onde escrevo isto, no final do dia de São João. Final do dia, porém, que não é o dia da festa. Essa é à noite e madrugada fora, como bem lembraram os autarcas de Gaia e Porto, depois de a Direção-Geral da Saúde ter lançado, apenas esta manhã, já arrumada a pouca festa que houve, recomendações para os festejos em honra do santo com o cordeirinho aos pés.

As guerras Norte-Sul são antigas. Mas há momentos em que as temos de pôr de lado. E o facto de a região de Lisboa e Vale do Tejo ser a partir de hoje aquela que tem mais casos de infeção pelo coronavírus responsável pela covid-19 deve ser sinal de cautela para o país todo.

Os municípios à roda da capital, os das torres construídas à beira da Linha de Sintra, dos bairros nas margens do IC19, obrigaram aos passos atrás. O vírus nunca foi verdadeiramente democrático, nem andámos todos no mesmo barco.

Os pobres, que nunca chegaram a poder deixar de andar para o trabalho, são agora os mais afetados. Aqui no Norte, eram os mais idosos, indefesos nos lares, a ser fustigados. Mas no meu sul natal o vírus infiltrou-se pelos outros: são mais novos, pobres, sem o luxo do teletrabalho.

Lisboa e Vale do Tejo registou hoje 82,2% dos 367 novos casos de infeção. Segundo os dados divulgados hoje, a região teve mais 302 novos casos, o Centro mais 28 casos (7,6%), o Algarve mais 16 (4,3%), o Norte mais 10 (2,7%), o Alentejo mais nove infeções (2,4%) e os Açores dois novos casos (0,5%).

Assim, em números totais, Lisboa e Vale do Tejo tem agora 17.527 casos, o Norte 17.339, o Centro 4.042, o Algarve 552, o Alentejo 406, os Açores 146 e a Madeira 92 (sem alteração). Os três óbitos reportados hoje registaram-se na região de Lisboa.

A pandemia em Portugal incidiu inicialmente na região Norte e nas últimas semanas está a incidir especialmente na região de LVT, onde o crescimento dos casos levou o Governo a aplicar na terça-feira medidas restritivas específicas para a Área Metropolitana de Lisboa, incidindo sobretudo nos concelhos de Lisboa, Sintra, Amadora, Odivelas e Loures.

Lisboa continua a ser o concelho com maior número de casos e está agora com um total de 3.191, mais 47 do que na terça-feira, enquanto Sintra está com um total de 2.370 casos, mais 45 do que na terça-feira. Loures tem 1.707 (mais 27 do que na terça-feira), a Amadora está com 1.511 (+32) e Odivelas com 1.017 (+32).

Já dos cinco concelhos do Norte com mais casos acumulados apenas Vila Nova de Gaia registou alterações desde segunda-feira, para um total de 1.628 casos (mais 11 casos na terça-feira e mais seis hoje). O Porto, com 1.414 infeções, Matosinhos, com 1.292, Braga, com 1.256, e Gondomar, com 1.093, não registaram alterações.

Estas contas mostram muitas coisas mas devem lembrar, sobretudo, que ainda não está tudo bem.

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