Um passo à frente no desconfinamento, vários passos atrás para a AstraZeneca

Marta Pedreira Mixão
Marta Pedreira Mixão

Um mês e meio depois do “pico” da pandemia em Portugal, o país acordou hoje pronto para o início da primeira fase de um novo desconfinamento, que será feito “a conta-gotas”.

"Conta-gotas não é sinónimo de sair e fazer tudo o que gostaríamos de fazer como se não atravessássemos ainda uma grave pandemia”, reforçou hoje o primeiro-ministro.

E assim foi retomada a “normalidade” possível: creches, pré-escolar, 1.º ciclo e ATL reabriram, foi também retomado o comércio ao postigo e os estabelecimentos de estética, como por exemplo os cabeleireiros, voltaram a abrir portas. Mas neste desconfinamento a conta-gotas a palavra de ordem é prudência, pelo que se mantém o dever geral de confinamento até a Páscoa.

Mas, enquanto Portugal dava um passo à frente no desconfinamento, vários países anunciavam um passo atrás na utilização da vacina da AstraZeneca, após a deteção de casos graves de coágulos sanguíneos em pessoas que foram vacinadas com doses do fármaco.

Depois de a Noruega, Países Baixos, Irlanda, Bulgária, Áustria, Estónia, Lituânia, Letónia, Luxemburgo e Dinamarca terem anunciado a suspensão da utilização da vacina como medida de “precaução”, também a Alemanha, França, Itália e Espanha avançaram no mesmo sentido.

A estes países juntou-se ainda Portugal, que anunciou a suspensão da administração da vacina ao fim do dia de hoje, uma decisão tomada em conjunto pela Direção-Geral da Saúde e o Infarmed, contrariando a indicação avançada ontem.

Segundo o presidente do Infarmed, Rui Ivo, o volte-face deu-se "após terem sido hoje conhecidos novos casos de reações adversas graves que foram reportados em vários países europeus após a administração da vacina da AstraZeneca".

As autoridades estão a aguardar os resultados de uma avaliação ainda esta semana, sendo que "não foi possível estabelecer uma relação de correlação entre os casos reportados e a toma da vacina", disse. Em solo nacional, foram registados dois casos de tromboembolismo, mas o caso clínico é diferente daqueles que se têm reportado noutros países, assegurou.

A Agência Europeia do Medicamento (EMA), que já se tinha pronunciado, argumentou que “os benefícios” da vacina da AstraZeneca contra covid-19 “superam os riscos de efeitos secundários”, mas garante que será feita uma “análise rigorosa” às situações de formação de coágulos sanguíneos em vacinados.

Procurando, em primeiro lugar, trazer alguma serenidade a todos aqueles que já tomaram esta vacina, a Diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, salientou que as reações adversas graves são raras. Por outro lado, apelou a que os visados se mantenham atentos a sintomas de mau estar durante alguns dias.

Este revés vai levar assim ao adiamento da vacinação dos professores do pré-escolar e do primeiro ciclo, com início previsto para o fim de semana, e o processo de vacinação geral vai sofrer um atraso de duas semanas.

Um passo em frente, dois passos atrás. Eis os avanços e recuos de quem ainda está a aprender a viver com o vírus.

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