Três semanas de guerra na Europa

Pedro Soares Botelho
Pedro Soares Botelho

Faz amanhã três semanas: começou de madrugada, rasgando pela noite a paz do continente europeu. Desde então, a invasão da Ucrânia pela Rússia provocou em três semanas centenas de mortos e fez com que milhões de pessoas fugissem para países vizinhos, e apesar de diversas rondas negociais ainda não há um cessar-fogo à vista.

Na madrugada de 24 de fevereiro, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anuncia uma "operação militar especial" na Ucrânia para defender as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e de Lugansk, cuja independência foi reconhecida pelo Kremlin três dias antes. Várias explosões são registadas em Kiev, capital da Ucrânia, em várias cidades do país. As Forças Armadas russas entram no território ucraniano a partir da Rússia e da Bielorrússia e acabam por ocupar a central nuclear de Chernobyl.

A ofensiva militar russa é condenada por grande parte da comunidade internacional, mas, num cenário de guerra aberta, apenas aumentam as tensões.

A 26 de fevereiro, as Forças Armadas russas recebem instruções para aumentar a intensidade da ofensiva na Ucrânia. No dia seguinte, o presidente russo anuncia que colocou todos os dispositivos bélicos em alerta, incluindo o armamento nuclear.

Do outro lado do Atlântico, os Estados Unidos da América (EUA) repudiam a escalada do conflito e a ameaça de uma guerra nuclear. Já a União Europeia (UE) anuncia a aquisição e entrega de armamento para a Ucrânia.

Ao mesmo tempo, vários países ocidentais, nomeadamente os EUA e os Estados-membros da UE anunciam sanções económico-financeiras severas contra a Rússia, que incluem o presidente e vários oligarcas russos, conduzindo ao colapso do rublo. Vários países, incluindo Portugal, encerram os espaços aéreos a aviões russos, um grande número de multinacionais anuncia o encerramento ou suspensão de estabelecimentos e serviços na Rússia, em repúdio à invasão e face à crescente pressão internacional. A Rússia e a Bielorrússia são excluídas de várias competições desportivas e eventos culturais e os órgãos de comunicação social estatais da Rússia RT e Sputnik são bloqueados na Europa.

Só a 28 de fevereiro Kiev e Moscovo iniciam negociações, na fronteira entre a Ucrânia e a Bielorrússia. O presidente russo exige o reconhecimento da região da Crimeia como um território da Rússia, a "desnazificação" da Ucrânia e que Kiev adquira o estatuto de neutralidade como pré-requisitos para um cessar-fogo e para o fim da guerra. Afinal, Moscovo exortou durante vários meses Kiev a garantir que nunca integraria a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Já o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que recebeu desde o início da guerra elogios de grande parte da comunidade internacional, insta Bruxelas a dar passos significativos rumo à integração na União Europeia. Mas os líderes dos Estados-membros da União Europeia descartam uma adesão rápida da Ucrânia, mas abrem as portas para o estreitamento dos laços. No dia 15 de março, o presidente da Ucrânia reconhece também a impossibilidade de o país integrar a NATO.

No dia seguinte, o ministro do Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, anuncia que o estatuto da Ucrânia enquanto país neutro está a ser objeto "de sérias discussões" no âmbito das negociações entre os dois países.

Neste tempo, a paisagem ucraniana desfaz-se: vários contingentes russos entram em Kharkiv (norte), a segunda maior cidade da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia. Kherson (sul), uma cidade perto da península da Crimeia, é bombardeada e acaba por 'cair nas mãos' dos militares russos. A artilharia russa atinge Mariupol (sudeste), um dos principais portos no Mar de Azov, um dia depois de ter conquistado o porto de Berdiansk.

No dia 3 de março, a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) vota com uma esmagadora maioria uma resolução a exigir o fim da ofensiva russa. De pouco serve: durante a noite deste dia, os militares russos assumem o controlo da central nuclear de Zaporijia (sul), a maior da Europa.

São criados no dia 8 vários corredores humanitários para permitir a retirada de civis da cidade de Sumy (nordeste) e nos arredores de Kiev. Em Mykolaiv, perto de Odessa (sul), são visíveis filas de automóveis durante vários quilómetros para fugir aos combates entre as tropas russas e ucranianas.

A Justiça da Alemanha e de Espanha anuncia a abertura de uma investigação para averiguar possíveis crimes de guerra cometidos por Moscovo. Também a França vai investigar.

O conflito, no entanto, aproxima-se das fronteiras europeias (e da NATO): uma base militar ucraniana é bombardeada no dia 13, a cerca de 20 quilómetros da fronteira com a Polónia, um dos 30 países que integra a NATO. Apesar disso, os primeiros-ministros da Polónia, República Checa e Eslovénia deslocam-se a Kiev durante a noite do dia 15 para demonstrar o "apoio inequívoco" da UE à Ucrânia

Durante esse 15 de março, é anunciada a retirada de cerca de 20.000 civis que estavam presos em Mariupol, uma das cidades mais fustigadas pela guerra depois de vários dias de cerco pelas tropas russas e constantes bombardeamentos.

Neste dia 16, véspera do marco de três semanas de guerra, o conflito prossegue, com imagens tenebrosas, sanções, promessas e apelos. Amanhã soma-se mais uma madrugada ao conflito.

*Com Lusa

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