Tolentino, a escolha de Francisco

Alexandra Antunes
Alexandra Antunes

O cardeal português D. José Tolentino Mendonça foi nomeado pelo Papa Francisco prefeito do novo Dicastério para a Cultura e a Educação.

O que é este Dicastério e quais vão ser as funções do cardeal português?

O Dicastério para a Cultura e Educação foi criado no âmbito da renovação da Cúria Romana, com a entrada em vigor da nova constituição ‘Praedicate Evangelium’, e reúne as responsabilidades que até agora estavam atribuídas à Congregação da Educação Católica e ao Conselho Pontifício para a Cultura.

Assim, este organismo fica com a tutela da rede escolar católica do mundo inteiro, com 1.360 universidades católicas e 487 universidades e faculdades eclesiásticas com 11 milhões de alunos e outras 217 mil escolas com 62 milhões de crianças.

D. José Tolentino Mendonça, de 56 anos, vai substituir no ex-Conselho Pontifício para a Cultura o cardeal D. Gianfranco Ravasi, que completa os 80 anos em outubro, e na ex-Congregação da Educação Católica o cardeal D. Giuseppe Versaldi, que fez 79 anos em julho.

Além de ter como responsabilidade a rede de escolas católicas, o cardeal madeirense vai ainda coordenar o diálogo da Igreja universal com o mundo da Cultura.

Segundo a Ecclesia, o Dicastério para a Cultura e a Educação "trabalha para o desenvolvimento dos valores humanos nas pessoas dentro do horizonte da antropologia cristã, contribuindo para a plena realização do seguimento de Jesus Cristo".

O Dicastério é "formado pela secção para a Cultura, dedicada à promoção da cultura, à animação pastoral e à valorização do património cultural, e pela secção para a Educação, que desenvolve os princípios fundamentais da educação com referência às escolas, Institutos superiores de estudos e pesquisas católicos e eclesiásticos e é competente para os apelos hierárquicos em tais matérias".

Este organismo da Cúria Romana coordena ainda as atividades da Academia Pontifícia de Belas Artes e Letras dos Virtuosos do Panteão, a Academia Pontifícia Romana de Arqueologia, a Academia Pontifícia de Teologia, a Academia Pontifícia de São Tomás, a Academia Pontifícia Mariana Internacional, a AcademiaPontifícia ‘Cultorum Martyrum’ e a Academia Pontifícia de Latinidade.

De onde vem a ligação de Tolentino às questões da Cultura? 

O cardeal iniciou os estudos de Teologia em 1982 e foi ordenado padre em 1990, tendo sido nomeado, em 2011, consultor do Conselho Pontifício da Cultura.

Criado cardeal em 5 de outubro de 2019 pelo Papa Francisco, tem-se destacado como poeta, sacerdote e professor, tendo sido vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), a instituição que escolheu para o doutoramento em Teologia Bíblica.

Ao longo dos anos, publicou uma vasta obra de poesia, ensaio e teatro, considerando a poesia como a arte de resistir ao tempo — e viu a sua obra, como autor, distinguida com vários prémios.

Em 2020, o cardeal José Tolentino Mendonça venceu o Prémio Europeu Helena Vaz da Silva para a Divulgação do Património Cultural, pelo seu contributo "excecional" enquanto divulgador da cultura e dos valores europeus.

De recordar também que, até agora, o cardeal português desempenhava as funções de arquivista e bibliotecário do Vaticano. Com a nova nomeação, o cargo passa agora para o Monsenhor Angelo Vincenzo Zani, ex-Secretário da antiga Congregação para a Educação Católica.

O que se sabe sobre a relação do Papa Francisco e Tolentino? 

Em 2018, o Papa Francisco escolheu o então padre e vice-reitor da UCP para orientar o retiro espiritual durante a Quaresma. Durante seis dias, em Ariccia, a cerca de 30 quilómetros de Roma, Tolentino apresentou 10 sessões de meditação em torno do tema "O elogio da sede".

"Quando o Santo Padre quis falar comigo para que colaborasse nos Exercícios da Quaresma, disse-lhe que eu sou apenas um pobre padre, e é a verdade. Ele encorajou-me a partilhar da minha pobreza", referiu Tolentino na altura, num texto publicado no site da Pastoral da Cultura.

De seguida, a 26 de junho, o Papa nomeou Tolentino como arquivista e bibliotecário da Santa Igreja Romana. "Para mim, não há diferença entre uma biblioteca e um jardim", notou, após a nomeação a sua ordenação episcopal, a 28 de julho do mesmo ano, em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos.

Já em 2019, a 5 de outubro, Tolentino Mendonça foi criado cardeal pelo Papa Francisco. Com esse passo, Tolentino Mendonça perguntou a Francisco: "Santo Padre, o que é que me fez?". Segundo o próprio cardeal português, o Pontífice riu-se e disse: "Olha, a ti eu digo aquilo que um poeta disse, 'tu és a poesia'".

"Foram palavras que eu guardo no meu coração, no fundo para dizer uma coisa essencial, que a Igreja conta com uma determinada sensibilidade, uma atenção a um determinado campo humano, que é o campo da cultura, das artes, da estética", afirmou Tolentino Mendonça aos jornalistas naquele dia.

Agora, o novo cargo só vem demonstrar que o Papa Francisco continua a olhar para o cardeal madeirense como um homem que liga a Igreja, as palavras, a cultura.

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