O primeiro alerta para os incêndios na Madeira foi dado às 9h48 de quarta-feira da semana passada, a 14 de agosto. De acordo com o Centro Integrado de Comunicações do Comando Regional de Operações de Socorro, o fogo deflagrou numa zona rural de difícil acesso, na freguesia de Serra de Água, no concelho da Ribeira Brava.

O arquipélago, que já estava sob aviso amarelo devido ao tempo quente, foi afetado pela presença de vento forte que prejudicou o combate às chamas. Pelas 14h45, o fogo progredia "numa encosta de difícil acesso" e foi solicitado, pelo Comandante das Operações de Socorro do Corpo de Bombeiros Mistos da Ribeira Brava e da Ponta do Sol, um meio aéreo.

Durante a noite, o fogo alastrou para as zonas do Espigão e da Trompica. No dia seguinte, as chamas já se espalhavam pelas zonas altas do concelho da Câmara de Lobos, tendo atingido as serras do Jardim da Serra.

Dois dias depois, na sexta-feira, e ainda sob o aviso do IPMA, a Madeira continuava a ser afetada pelo incêndio, impossível de controlar devido às altas temperaturas, humidade baixa e vento forte.

Nas primeiras horas da manhã, embora sem casas e povoações ameaçadas, aguardava-se o reforço e a reestruturação das equipas do terreno. Uma parte do incêndio já tinha perdido a intensidade, mas outra, com duas frentes ativas, afetava zonas próximas da montanha, onde os meios não conseguiam chegar.

Já durante a tarde, cerca das 15h00 do dia 16 de agosto, o incêndio começou a descer em direção ao Curral das Freiras, criando mais uma frente ativa. Por esta altura combatiam as chamas 35 bombeiros, com o apoio de 11 viaturas, um meio aéreo e uma equipa helitransportada.

No decorrer dessa tarde houve registo para um bombeiro ferido, mas fora de perigo.

Nas zonas de Serra de Água e de Espigão, as chamas já eram controladas, apesar de alguns reacendimentos. No concelho de Câmara de Lobos, o incêndio continuava bastante ativo.

Ainda neste dia, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, contactou o presidente do Governo Regional da Madeira, Miguel Albuquerque, oferecendo-se para apoiar no combate aos incêndios através do envio de mais meios. Contudo, Albuquerque terá dito que não era necessário.

Mas, ao contrário do que se previa, a noite não deu tréguas e "as condições meteorológicas continuaram a dificultar a ação dos homens no terreno", o que levou o Governo Regional a aceitar mais 80 elementos da Força Especial dos Bombeiros do continente. Inclusive, cerca de 50 famílias foram retiradas das suas habitações, devido à proximidade das chamas, na freguesia do Curral das Freiras.

Durante a manhã de sábado já eram 56 operacionais, 18 viaturas, um meio aéreo e uma Unidade Móvel de Telecomunicações e Emergência do SRPC.

No terreno estavam as corporações de Bombeiros Voluntários de Câmara de Lobos, Companhia de Bombeiros Sapadores do Funchal, Bombeiros Voluntários Madeirenses, Bombeiros Mistos da Ribeira Brava e Ponta do Sol, Companhia de Bombeiros Sapadores de Santa Cruz e Bombeiros Municipais de Machico, e Comando Regional de Operações de Socorro (CROS).

Contudo, ainda entre as chamas e meios de socorro, chegavam críticas dos vários partidos, entre eles o PS, devido à falta de reforço de meios, bem como novos avisos do IPMA em relação às temperaturas quentes e aos riscos elevado e muito elevado de incêndio na ilha.

Durante a tarde de sábado, a Câmara do Funchal foi obrigada, mesmo que por precaução, a evacuar o canil. E más notícias continuavam a chegar: a Câmara de Lobos precisou de ativar o Plano Municipal de Emergência devido à rápida propagação do fogo e às previsões de tempo quente e vento forte dos próximos dias.

Com três frente ativas, na Encumeada, Jardim da Serra e Curral das Freiras, as chamas lavraram noite fora sem previsão de melhorias. Além dos profissionais do continente que, por essa altura, afinal eram 76, também se aguardava a chegada de 20 elementos vindos dos Açores.

Já na manhã de domingo, o incêndio que parecia controlado na zona da Fajã das Galinhas, no concelho da Câmara de Lobos, voltou a preocupar as autoridades. Com mais de 100 pessoas dali e de outras localidades a terem de abandonar as suas casas durante a madrugada, o fogo reacendeu.

As informações, naquele momento, davam conta que já combatiam 120 operacionais, com o apoio de 43 veículos e um meio aéreo, as chamas na ilha.

Ao mesmo tempo, o "burburinho" quanto aos meios de combate continuava. Ora com o presidente da Assembleia Legislativa da Madeira, José Manuel Rodrigues, a pedir mais dois helicópteros para combater os incêndios, ora com Miguel Albuquerque a defender-se das críticas e a criticar também o apoio insuficiente do Estado.

As respostas dos partidos não tardaram a surgir. O líder do JPP da Madeira pediu logo uma audição a Miguel Albuquerque e ao secretário regional da Proteção Civil devido aos "não esforços" no combate a estes incêndios.

Na tarde do dia 18 de agosto, devido à aproximação do fogo do planalto do Paul da Serra foi necessário encerrar estradas na zona. A certa altura o local tornou-se mesmo a maior preocupação das autoridades, com 160 pessoas retiradas de casa sem previsão de regresso.

Enquanto outras localidades eram evacuadas, como era o caso de Serra de Água, o fogo começava a dar o braço a torcer no concelho de Câmara de Lobos.

Nova semana

A semana começou com boas notícias: o incêndio de Serra de Água estava extinto. No entanto, no concelho da Ribeira Brava e da Ponta do Sol, o incêndio continuava a deflagrar em duas frentes, ainda que controlado.

Mas o que pareciam ser algumas boas notícias, rapidamente, voltaram à estaca zero. O tempo quente e os ventos fortes teimavam em reacender pequenos focos de incêndio que se alastravam na Serra de Água, Curral das Freiras e Ponta do Sol.

Entre chamas apagadas e reacendimentos, uma realidade na Encumeada e na Furna, a semana de incêndios continuou. O Governo foi mesmo obrigado a assumir que iria rever a possibilidade de a ilha ter mais dois meios aéreos.

Já na terça-feira, no dia 20 de agosto, os três planos de emergência dos principais municípios afetados tinham sido ativados. Com 102 operacionais, 16 veículos e um meio aéreo, os principais meios concentravam-se na Serra de Água e no Curral das Freiras.

Com as chamas a persistirem junto ao planalto do Paul da Serra, foi necessário encerrar estradas na zona e no Pico do Areeiro. Por sua vez, o fogo atingia o Pico Ruivo, que precisou de reforçar os meios.

Por essa altura já mais de quatro mil héctares tinham ardido em toda a ilha e o alarme das críticas continuava a soar: o Sindicato Nacional da Proteção Civil pedia a demissão dos responsáveis da Proteção Civil da Madeira.

Na quarta-feira, dia 21 de agosto, faziam oito dias que o incêndio lavrava na ilha. Com resultados num dia e retrocessos no outro, o continente enviou mais 60 elementos para forçar a frente de fogo. Ao mesmo tempo, o Governo Regional ativava, finalmente, o Mecanismo Europeu de Proteção Civil para pedir dois meios aéreos Canadair para apoiarem no combate.

As chamas continuaram a progredir, com a Câmara Municipal de Santana a ser obrigada a encerrar acessos pedonais e o acesso aos automóveis, e a cordilheira central em apuros. No “teatro de operações” estavam então 140 operacionais, apoiados por 30 veículos e um helicóptero. Contudo, para os profissionais este número não se revelava suficiente, exigindo o reforço dos meios.

Durante estes dias, a Madeira continuava sob aviso amarelo, ora laranja, e as dúvidas sobre as áreas que tinham ardido começavam a surgir. Uma delas dizia respeito à floresta Laurissilva que, inicialmente se dizia protegida, mas que Albuquerque acabou por confessar ter sido "um pouco atingida".

Já na manhã de ontem, o foco de preocupação era o Pico Ruivo, com duas frentes ativas.

Contudo, com a chegada dos aviões Canadair e os 280kg de material de apoio enviado pela Cruz Vermelha para a Madeira foi possível retomar um novo controlo das chamas na cordilheira central, mas não noutras zonas: as margens da ribeira da Ponta do Sol eram tomadas pelo fogo.

Mais uma vez, entre melhoras e pioras, os meios continuavam até hoje a fazerem de tudo para que, sobretudo nas zonas que continuavam a ser afetadas, como a cordilheira central e a Ponta do Sol, as chamas não progredissem.

As causas, a investigação, a resolução e os danos

Desde as primeiras horas que a Polícia Judiciária (PJ) está a investigar a origem do fogo, sendo que o presidente Miguel Albuquerque chegou a anunciar "fogo posto", ainda que as causas não tenham sido reveladas.

Com conhecimento do motivo ou não, o certo é que para o PS é necessário uma comissão de inquérito para apurar as responsabilidades políticas no combate ao incêndio que lavra há dez dias na ilha da Madeira. Por sua vez, o partido solicitou, já esta sexta-feira, uma audição urgente da ministra da Administração Interna, Margarida Blasco, no parlamento para esclarecer a "gestão política do combate ao grande incêndio na Madeira" no que diz respeito aos meios aéreos (não) disponibilizados.

Envolvido na polémica da gestão do combate destes incêndios, o presidente regional disse que assumia as suas responsabilidades, mas que a sua atuação deveria ser avaliada, posteriormente, em função dos resultados.

Ao que tudo indica, até ao momento, "não há grandes danos" nas zonas afetadas pelos incêndios na ilha, pelo menos no que diz respeito a estradas e a infraestruturas. Quanto aos héctares ardidos já deverão ser bem mais do que 4.930.